América Aberta: os destaques do maior encontro de dados abertos da América Latina

Evento, realizado pela primeira vez no Brasil, reuniu cerca de 1,2 mil participantes de mais de 30 países em Brasília para discutir a publicação e o uso de dados abertos; saiba mais

Realizado entre os dias 3 e 6 de dezembro de 2024, o América Aberta, organizado pela Open Knowledge Brasil (OKBR) em conjunto com entes nacionais e internacionais, reuniu cerca de 1,2 mil participantes de mais de 30 países em Brasília (DF). Estiveram presentes autoridades e representantes de organizações nacionais e internacionais, parlamentares, jornalistas, servidores públicos, acadêmicos, ativistas, lideranças, entre outras pessoas.

No último dia de evento, a ministra da Igualdade Racial do Brasil, Anielle Franco, participou da mesa Futuro: oportunidades e desafios, e falou sobre a importância da regulação digital e de pensar na diversidade, no respeito e no letramento quando se fala de digitalização e tecnologia. 

“A digitalização pode, ao mesmo tempo, ser cruel, como com o perfilamento racial, mas também pode ter bons usos. O Fogo Cruzado é um exemplo de projeto incrível que usa tecnologia, e outro é o uso de câmeras corporais pelos policiais, que mostram as atrocidades que ainda fazem as pessoas negras serem mais vítimas”, disse.

https://youtube.com/watch?v=n1aEx6gbMRU%3Fsi%3Dev4I1pHtZBbllMXB

Também marcou presença no encerramento o ministro Vinicius Marques de Carvalho, da Controladoria-Geral da União (CGU). Ele reafirmou o compromisso do governo do presidente Lula com a transparência e a inclusão: “A gente sabe que há uma infinidade de ações ainda a serem organizadas e implementadas no Brasil, inclusive, ações que merecem ganhar escala para terem o impacto na vida da população e que a população também reconheça essa agenda como uma agenda de criação de valor, de bem-estar e que consiga reforçar a ideia de que a gente está tentando construir uma democracia forte, uma democracia com intensidade nesse país”.

Haydée Svab, diretora-executiva da Open Knowledge Brasil, que fez parte do Comitê Organizador do América Aberta, ressaltou a importância do evento em tratar de assuntos importantes e atuais, como as mudanças climáticas, e inovar para garantir mais participação – como aconteceu no caso da Abrelatam. 

“Com esse casamento de eventos diversos dentro do América Aberta, trouxemos aqui públicos que, em geral, não conversam ou não frequentam eventos uns dos outros. Tivemos jornalistas com pessoas de governo aberto, por exemplo, então foi uma oportunidade muito rica para todo mundo”, destacou. 

A jornalista Cecília Olliveira, do Fogo Cruzado, e a ministra da Igualdade Racial do Brasil, Anielle Franco, em painel no último dia do América Aberta (Crédito: Acervo América Aberta)

Abrelatam: a trilha da sociedade civil

O Encontro Aberto para uma Região Aberta, mais conhecido como Abrelatam, foi a trilha que reuniu a sociedade civil em mais de 20 sessões de discussão sobre diversos temas, como justiça e dados ambientais, dados LGBTQIAP+, inteligência artificial, feminismo e dados, retrocessos no acesso à informação, entre outros.

O formato de desconferência da Abrelatam ganhou uma inovação este ano, com uma construção da agenda de forma antecipada e virtual. “Organizamos uma série de dez webinars para discutir diferentes temáticas, e a construção on-line da agenda teve mais de 130 contribuições – o que mostra que esse método foi abraçado pela comunidade latino-americana e que possibilitou que pessoas que não estão presentes hoje no evento pudessem participar”, relatou Haydée. A Open Knowledge Brasil foi a organização da sociedade civil local responsável pela realização dessa edição, atuando como guardiã dos princípios da Abrelatam.

As discussões foram consolidadas em estratégias conjuntas que geraram uma declaração lida e compartilhada no painel de encerramento do América Aberta. Em 2025, a edição da Abrelatam, que tradicionalmente ocorre junto à Condatos (Conferência Regional para Dados Abertos da América Latina e do Caribe), acontecerá na Bolívia.

Veja a série “Construindo a Abrelatam para uma América Aberta”

Diversas pessoas posam em frente a painel escrito Agenda Colaborativa da Abrelatam

Participantes da trilha da Abrelatam, que tem formato de desconferência e permite que qualquer pessoa contribua com a construção da agenda de discussão (Crédito: Acervo América Aberta)

Coda.Br: a trilha sobre jornalismo de dados

Na trilha da Conferência Brasileira de Jornalismo de Dados e Métodos Digitais (Coda.Br), houve oito oficinas e quatro painéis, além de uma sessão de apresentações relâmpago. As atividades abordaram temas como uso de metodologias de geração cidadã de dados para pautar violência policial, dados sobre violência de gênero, visibilidade da diversidade LGBTQ+ e impactos das tecnologias digitais sobre os direitos humanos, com participação de especialistas brasileiros e de outros países da América Latina.

A maior conferência de jornalismo de dados da América Latina é realizada anualmente pela Escola de Dados, programa educacional da Open Knowledge Brasil, e está em sua 9ª edição. 

Também houve a cerimônia de premiação da 6ª edição do Prêmio Cláudio Weber Abramo de Jornalismo de Dados, que anunciou quatro trabalhos vencedores e uma menção honrosa.

Veja todos os vencedores aqui

Pessoas sentadas em roda em cadeiras de escritório conversam dentro de uma sala, com um banner escrito Coda.Br no canto esquerdo

Participantes em roda durante o painel “Fortalecendo comunidades amazônicas através de tecnologias livres” da trilha do Coda.Br (Crédito: Acervo América Aberta)

Demais destaques 

Na trilha Encontro de Governo Aberto, promovida pela Parceria para Governo Aberto (OGP, sigla em inglês para Open Government Partnership), os países das Américas que integram a organização apresentaram seus compromissos em relação aos princípios de governo aberto. Esta trilha teve especial relevância pois o Brasil, sob a coordenação da CGU, assumiu no último outubro a co-presidência da OGP pelo período 2024-2026.

As discussões também pautaram o novo relatório Independent Reporting Mechanism (IRM) da OGP, que avaliou os esforços desempenhados ao longo de 13 anos no Brasil na reforma do governo aberto. Foi ainda abordada a agenda global e anunciadas duas reuniões regionais da Parceria em 2025: a Reunião Regional Ásia-Pacífico, nas Filipinas, e a Reunião Regional África, no Quênia.

Saiba como foi a abertura do América Aberta

Treze pessoas com crachás posam juntas para foto em uma sala com uma projeção atrás

Haydée Svab, diretora-executiva da OKBR, com demais participantes brasileiros no OGP Camp da trilha Encontro de Governo Aberto (Crédito: Acervo América Aberta)

Maior encontro de dados abertos da América Latina

Na agenda oficial do evento, foram realizadas 136 atividades em 12 espaços do Instituto Serzedello Corrêa (ISC) durante os quatro dias de América Aberta.

Elas estavam distribuídas em cinco trilhas: Encontro Aberto para uma Região Aberta (Abrelatam); Conferência Regional para Dados Abertos da América Latina e Caribe (ConDatos); Conferência Brasileira de Jornalismo de Dados e Métodos Digitais (Coda.Br); Semana de Dados Abertos; e Encontro de Governo Aberto. Também houve 3 espaços de convívio – entre eles, o inédito Gugu-Dadados, que atendeu 15 crianças. 

Ao todo, mais de 200 pessoas se envolveram diretamente na organização do evento, que recebeu quase 300 palestrantes. 

O América Aberta foi realizado sob a coordenação de uma Comissão Organizadora Local, integrada pela Open Knowledge Brasil, pela Controladoria-Geral da União, pelo Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR e pelo Colaboratório de Desenvolvimento e Participação da Universidade de São Paulo. 

Entre os parceiros internacionais, destacam-se a Organização dos Estados Americanos (OEA), a Iniciativa Latino-Americana de Dados Abertos (ILDA), a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Económicos (OCDE), a Aliança para Governo Aberto (OGP) e a Comissão Econômica para a América Latina (CEPAL). 

Sobre o autor
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Francisco Cavalcante

Gestor Executivo no Legal Grounds Institute. Graduado em Direito pela Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN). Possui formação técnica em Eletromecânica pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE). Coordenador do Observatório do Direito à Educação da Universidade de São Paulo (USP). Membro associado da Rede de Pesquisa Empírica em Direito (REED). Alumni em Governança da Internet pela South School on Internet Governance (SSIG), onde cursa Diplomatura Universitaria en Gobernanza y Regulaciones de Internet, participante do Programa Youth 2024, do Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br), e do Registro de Endereços da Internet para a América Latina e o Caribe (LACNIC 40). Participa recorrentemente de fóruns internacionais representando a juventude brasileira como Embaixador, entre eles: Brazil Conference at Harvard&MIT, Young Americas Forum/Summits of the Americas e One Young World Summit.
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Francisco Cavalcante

Gestor Executivo no Legal Grounds Institute. Graduado em Direito pela Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN). Possui formação técnica em Eletromecânica pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE). Coordenador do Observatório do Direito à Educação da Universidade de São Paulo (USP). Membro associado da Rede de Pesquisa Empírica em Direito (REED). Alumni em Governança da Internet pela South School on Internet Governance (SSIG), onde cursa Diplomatura Universitaria en Gobernanza y Regulaciones de Internet, participante do Programa Youth 2024, do Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br), e do Registro de Endereços da Internet para a América Latina e o Caribe (LACNIC 40). Participa recorrentemente de fóruns internacionais representando a juventude brasileira como Embaixador, entre eles: Brazil Conference at Harvard&MIT, Young Americas Forum/Summits of the Americas e One Young World Summit.

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