“Phygital” no setor da saúde: Avanços e impasses das novas tecnologias

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Por Ana Laura Marinho

Publicado originalmente no Migalhas

O universo da saúde, mais do que nunca, vem sendo impactado pelas novas tecnologias que despontam diariamente e demonstram sua capacidade de assegurar uma alta qualidade de assistência na prestação de serviços de saúde. 

Para melhor entender as inúmeras transições que atingem o setor a olhos vistos, cumpre fazer uma breve retrospectiva das últimas décadas de transformações tecnológicas, isso porque, não obstante a popularização da internet na década de 90, foi mesmo a partir do final da primeira década dos anos 2000 que surgiram os primeiros dispositivos que se aproximavam do que hoje se denomina como “phygital”.1

Com efeito, pode-se conceituar o termo “phygital” como uma junção entre a palavra “phy”, que traduzida do inglês significa “físico” e a palavra “gital”, que significa digital, ou seja, uma integração entre os universos físicos e digital que visa proporcionar melhores experiências na vida dos usuários e, no caso da saúde, maior assertividade, rapidez e eficácia nos diagnósticos e/ou tratamentos. 

Dito isto, convém retomar aduzindo que, apesar do surgimento destas tecnologias em meados dos anos 2000, foi somente durante a pandemia da COVID-19 que as experiências “phygital” se intensificaram e desenvolveram, notadamente através das modalidades de tele atendimentos médicos, as quais foram definidas e regulamentadas pela Resolução CFM 2.314/22.2

Desde então, o que se vê é uma acelerada transformação digital sendo incorporada nos cuidados em saúde através dos mais diversos tipos de tecnologias – wearable devices; telemedicina; IA; machine learning; data analytics e big data etc -, sendo inegável que, se forem bem utilizadas, têm o potencial de assegurar uma alta qualidade na prestação de serviços. 

Tanto assim o é que este é um mercado em inegável crescimento, haja vista que a evolução do ecossistema dos cuidados em saúde não pode mais ser pensada sem considerar os avanços da tecnologia digital, podendo tal constatação ser comprovada inclusive através do valor estimado do setor que, no ano de 2022 alcançou o montante de 233,5 bilhões de dólares, conforme estudo publicado pela Global Market Insights.3

O que se vê, portanto, é que a união das experiências físicas e digitais – ou “phygital” – quando se pensa em toda a cadeia de cuidados demonstra que um novo desenho de saúde vem sendo realizado, com o digital sendo cada vez mais incorporado ao tradicional, tendência que abarca uma série de vantagens. 

Dentre elas, podem ser citadas como exemplificação a prática da medicina preditiva por meio da IA; a possibilidade de expansão dos cuidados para além do espaço físico das clínicas; o uso de dispositivos de monitoramento passivo com foco em prevenção; a possibilidade de redução de custos para o sistema de saúde do país, seja ele público ou privado, dentre outras tantas. 

No entanto, ao se pensar na utilização das inúmeras novas tecnologias que vem sendo desenvolvidas em prol da saúde de seus usuários, não podem ser desconsiderados os novos desafios por elas trazidos, isso porque, novos dispositivos tecnológicos, pelo menos antes de sua massificação, usualmente possuem alto custo, o que faz com que seus benefícios fiquem restritos somente a uma parte da população – aquela que possui recursos para arcar com tais gastos. 

Além disso, o uso de novas tecnologias também deve ser confrontado por uma série de questões éticas que se impõem, como por exemplo se a tecnologia foi devidamente validada através da utilização da metodologia científica correta e respeitada todas as fases da pesquisa; ou ainda se há a certificação da origem e segurança dos dados nos casos que envolvam dispositivos que dependam da alimentação de um sistema. 

Como se vê, a aproximação entre os mundos físico e digital – “phygital” – no setor da saúde já é uma realidade que vem impulsionando bilhões ao redor do mundo e propiciando uma verdadeira revolução, ao adotar o uso de instrumentos cada vez mais ágeis, eficientes e assertivos com capacidade de auxiliar profissionais e usuários nos cuidados de saúde nas mais diferentes áreas, contudo, sem que seja deixado de lado os princípios éticos que regem as sociedades civilizadas modernas. 


1 RUPRECHT, Theo. Phygital: do digital para o real, e do real para o digital. Futuro da Saúde. Disponível em: https://futurodasaude.com.br/tudosobre/phygital-do-digital-para-o-real-e-do-real-para-o-digital/. Acesso em 26 de fevereiro de 2024. 

2 CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA, Resolução CFM nº 2.314/2022. Disponível em: https://www.in.gov.br/web/dou/-/resolucao-cfm-n-2.314-de-20-de-abril-de-2022-397602852. Acesso em 28 de fevereiro de 2024. 

3 FAIZULLABHOY, Mariam; WANI, Gauri. Digital Health Market – By Technology [Telehealthcare {Telecare, mHealth (Wearables, Apps (Medical, Fitness))}, Health Analytics], By Component (Hardware, Software, Services), By Region, Competitive Landscape, Pricing Analysis – Global Forecast to 2032. Disponível em: https://www.gminsights.com/toc/detail/digital-health-market. Acesso em 01 de março de 2024. 

Ana Laura Marinho Ferreira
Pesquisadora do Legal Grounds Institute. Mestre em Saúde Pública pela Escola Nacional de Saúde Pública da Fundação Oswaldo Cruz – ENSP/FIOCRUZ; LL.M em Direito Civil e Direito Processual Civil pela Fundação Getúlio Vargas – FGV Direito Rio.

Sobre o autor
Legal Grounds Institute

Legal Grounds Institute

Produzindo estudos sobre políticas públicas para a comunicação social, novas mídias, tecnologias digitais da informação e proteção de dados pessoais, buscando ajudar na construção de uma esfera pública orientada pelos valores da democracia, da liberdade individual, dos direitos humanos e da autodeterminação informacional, em ambiente de mercado pautado pela liberdade de iniciativa e pela inovação.
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